PÉ PLANO INFANTIL
O pé plano define-se como a diminuição ou ausência de arcada plantar interna do pé.
Nas crianças, esta situação corresponde a uma fase normal do desenvolvimento do pé e na maioria dos casos, resolve espontaneamente.
A maioria dos pés planos da criança são flexíveis podendo resultar de um certo grau de laxidez ligamentar que é comum neste grupo etário, de tal forma que se considera o pé plano valgo infantil uma variante do normal.
Aos 3 anos de idade o pé plano é frequente; com o passar do tempo a arcada interna irá desenvolver-se em resultado do creScimento ósseo e diminuição da elasticidade ligamentar.
É habitual a preocupação dos pais em relação ao aspeto do pé, havendo queixas frequentes de desgaste assimétrico e deformação do calçado.
Podem existir outras queixas como dificuldades na marcha, desequilíbrio, cansaço fácil ou entorses de repetição. Desta forma, é importante distinguir este tipo de pé, benigno, do pé plano rígido e doloroso, causado, por exemplo, por malformações congénitas como barras társicas.
Exame clínico
É fundamental o exame não só do pé, como de toda a criança, avaliando a marcha e não esquecendo o exame neurológico, de forma a excluir patologias mais complexas.
Neste tipo de pés, além da ausência de arcada interna, é habitual observar também um desvio divergente (valgo) dos calcanhares.
Depois de analisar a morfologia do pé, deve avaliar-se a sua função e flexibilidade: olhando os pés por trás e solicitando à criança que se coloque em pontas. Ao realizar esta manobra, num pé funcionalmente normal, há uma varização espontânea dos calcanhares quando estes se elevam e as arcadas plantares definem-se. Outro sinal de normalidade funcional, é realizar a hiperextensão do hállux, com o pé em carga e observar o aparecimento da arcada plantar interna (sinal de Hicks).
A análise da impressão plantar no podoscópio é também importante, pois permite diagnosticar e classificar o tipo de pé plano.
Exames complementares de diagnóstico
É habitual solicitar um estudo imagiológico com radiografias de ambos os pés em incidências AP (ântero-posterior) e perfil em carga e incidências oblíquas. Isto permite-nos avaliar a gravidade da situação, em alguns casos indicar uma patologia causal e também acompanhar a sua evolução.
Tratamento
Existem recomendações universais, como o uso de calçado com contrafortes rígidos no calcanhar e que envolvam o tornozelo; o fortalecimento muscular é também essencial, com exercícios que podem ser feitos em casa, como andar nas pontas dos pés e nos calcanhares, apanhar objetos com os dedos dos pés e andar descalço em terrenos irregulares.
As clássicas "botas ortopédicas", são ineficazes e têm um efeito prejudicial, não só em termos psicológicos, mas principalmente porque impedem o normal desenvolvimento do pé.
O uso de palmilhas de palmilhas personalizadas tem ajudado cada vez mais a corrigir a arcada.
O tratamento cirúrgico deve ser excecional e proposto apenas em crianças cujo tratamento conservador falhou ou com agravamento da deformidade.
